Para a Organização
Mundial de Saúde, se não houver uma campanha agressiva contra a
prática do fumo, o número de mortes por males causados por cigarro
pode dobrar até 2020
Analice Giglioti
Acender um cigarro há décadas significava glamour, beleza e elegância.
Astros americanos como o eterno 007 Sean Connery e Rita Hayworth
atuaram em cenas mundialmente conhecidas por suas tragadas. Quem não
se lembra da cruzada de pernas de Sharon Stone em Instinto Selvagem?
Sharon passa a cena acompanhada de seu sexy cigarro. Mas o culto à
saúde e ao corpo leva a nova geração de artistas a buscar recursos
mais saudáveis de sensualidade. Hoje, ninguém quer ver sua imagem
vinculada ao fumo e o tabagismo começa a ser visto como vício e uma
doença a ser combatida. O cigarro é responsável por 200 mil mortes por
ano no Brasil. Quase 30 milhões de brasileiros são fumantes e 80%
destes querem parar.
No mundo, um bilhão e 200 milhões de pessoas fumam, e 200 milhões
delas são mulheres. Por ano, cinco milhões de pessoas morrem de
complicações geradas pelo tabagismo, o que representa mais de dez mil
mortes por dia. Para a Organização Mundial de Saúde, se não houver uma
campanha agressiva contra o fumo, o número de mortes pode dobrar até
2020. O Brasil faz a sua parte. A criação de uma Associação Brasileira
para Tratamento e Controle do Tabagismo (Abratt) é um passo importante
nas ações de prevenção e tratamento da dependência de nicotina. A
medicina conta com armas (gomas de mascar e adesivos de nicotina,
assim como medicamentos orais) para vencer a batalha. Estas medicações
diminuem o sofrimento da síndrome de abstinência, enquanto o novo
ex-fumante se adapta à vida sem cigarro. Sem a nicotina (a substância
que vicia), o fumante fica irritado, insone e com ânsia em comer. O
apoio farmacológico reduz a irritabilidade, a ansiedade, a dificuldade
de concentração, a fissura e o apetite.
Paralelamente, uma readaptação psicológica vai se realizando.
Seguramente o fumante deu mais tragos em seu cigarro do que beijos em
alguém. Sem o hábito de fumar, há que se preencher um vazio, e o apoio
psicológico é fundamental. Hoje quem quer parar de fumar encontra
ajuda em hospitais da rede pública no País. O tratamento inclui
medicamentos associados à terapia. A única medicação oral e sem
nicotina aprovada para este tratamento é a bupropiona. Além de
minimizar a síndrome de abstinência, reduz a vontade de fumar e de
comer – o que detém o ganho de peso. Não há tratamento ideal para
deixar de fumar. O melhor é o que o fumante escolhe. Para quem não
gosta de tomar medicação oral, terapias de reposição de nicotina são
uma boa opção; para os que não desejam usar nicotina, ou mulheres que
temem engordar, a bupropiona deve ser a primeira escolha. Para os mais
inseguros, pode ser necessário usar as duas classes de medicamento.
Mas uma coisa é certa: hoje não se deve ter medo de tentar parar de
fumar. Não é tão gostoso quanto almoçar fora, mas é mais fácil do que
se imagina.
Analice Giglioti é psiquiatra, chefe do Setor de Dependência Química
da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro e diretora da
Associação Brasileira para Tratamento e Controle do Tabagismo (Abratt).